A justiça é o poder dos mais fortes
Marcio Soares
(soares@upf.br)
Professor do curso de Filosofia da UPF
Nestas últimas duas semanas, foi motivo de polêmica uma operação da PF (Polícia Federal) que resultou na prisão de banqueiros, empresários e até um ex-prefeito da maior cidade do Brasil, todos acusados de corrupção, formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. As operações da PF foram filmadas e veiculadas em rede nacional. Como em todas as operações policiais similares, os acusados foram algemados e conduzidos em carros da própria PF até a sua carceragem. Evidentemente, as imagens de gente famosa e muito rica sendo presa foram amplamente exploradas pela televisão.
Contudo, a polêmica se deu entre as grandes autoridades do país que comentaram publicamente as prisões. De um lado, um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) queixou-se da arbitrariedade da PF e do abuso de autoridade no uso de algemas. De outro, o ministro da Justiça ponderou que a PF apenas exerceu seu papel ao algemar os acusados. Até mesmo o presidente da República comentou o caso do abuso de autoridade no uso das tais algemas nessa operação. E, para aumentar a polêmica, gravações telefônicas feitas pela PF, publicamente veiculadas, mostram os acusados falando das facilidades de se safarem das acusações no STF.
Houve, ainda, uma queda de braço pública entre um ministro do STF, que mandou soltar alguns acusados (os mais ilustres), e o juiz que decretara as prisões, que as ordenou novamente. Para completar o quadro, os delegados da PF envolvidos pediram afastamento do caso, e alguns dos advogados dos ilustres acusados queixaram-se do “estado de polícia” que o Brasil se tornou, referindo-se às operações da PF.
Tudo isso é de domínio público e parece confirmar a opinião comum de que a justiça é discriminatória e trata ricos e pobres de maneira desigual. Ora, os brasileiros assistem diariamente a cenas de operações policiais nas periferias das cidades: traficantes e bandidos em geral são algemados e conduzidos em camburões da polícia de forma bem menos confortável do que os ilustres presos pela PF. Mas há uma diferença: eles são pobres, traficantes, assaltantes, arrombadores, e não banqueiros, empresários ou políticos. Em síntese, nunca ouvimos qualquer polêmica entre grandes autoridades do país sobre o abuso policial no uso de algemas quando se trata da prisão de pobres.
A polêmica brasileira parece ter sido representada filosoficamente pelo pensador grego Platão, em sua obra A República. Logo no primeiro capítulo do diálogo, o sofista Trasímaco defende que a justiça não passa do poder dos mais fortes, que manipulam o Estado e constroem leis a favor de seus interesses. Sócrates, o grande personagem de Platão, combate Trasímaco argumentando que não cabe ao homem justo praticar a injustiça e que a injustiça só torna os homens piores. Nesse ponto, temos de concordar com Sócrates: a injustiça oficiosa, no Brasil, tem tornado os brasileiros piores, moralmente piores. Ou será que a cultura da corrupção e do famoso “jeitinho” é um “fenômeno inexplicável”?
Dicas de leitura:
PLATÃO. A República. Tradução de Maria H. da R. Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (sobretudo o Livro/capítulo I).
PLATÃO. Górgias. Tradução de Manuel de O. Pulquério. Lisboa: Edições 70.
Marcio Soares
(soares@upf.br)
Professor do curso de Filosofia da UPF
Nestas últimas duas semanas, foi motivo de polêmica uma operação da PF (Polícia Federal) que resultou na prisão de banqueiros, empresários e até um ex-prefeito da maior cidade do Brasil, todos acusados de corrupção, formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. As operações da PF foram filmadas e veiculadas em rede nacional. Como em todas as operações policiais similares, os acusados foram algemados e conduzidos em carros da própria PF até a sua carceragem. Evidentemente, as imagens de gente famosa e muito rica sendo presa foram amplamente exploradas pela televisão.
Contudo, a polêmica se deu entre as grandes autoridades do país que comentaram publicamente as prisões. De um lado, um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) queixou-se da arbitrariedade da PF e do abuso de autoridade no uso de algemas. De outro, o ministro da Justiça ponderou que a PF apenas exerceu seu papel ao algemar os acusados. Até mesmo o presidente da República comentou o caso do abuso de autoridade no uso das tais algemas nessa operação. E, para aumentar a polêmica, gravações telefônicas feitas pela PF, publicamente veiculadas, mostram os acusados falando das facilidades de se safarem das acusações no STF.
Houve, ainda, uma queda de braço pública entre um ministro do STF, que mandou soltar alguns acusados (os mais ilustres), e o juiz que decretara as prisões, que as ordenou novamente. Para completar o quadro, os delegados da PF envolvidos pediram afastamento do caso, e alguns dos advogados dos ilustres acusados queixaram-se do “estado de polícia” que o Brasil se tornou, referindo-se às operações da PF.
Tudo isso é de domínio público e parece confirmar a opinião comum de que a justiça é discriminatória e trata ricos e pobres de maneira desigual. Ora, os brasileiros assistem diariamente a cenas de operações policiais nas periferias das cidades: traficantes e bandidos em geral são algemados e conduzidos em camburões da polícia de forma bem menos confortável do que os ilustres presos pela PF. Mas há uma diferença: eles são pobres, traficantes, assaltantes, arrombadores, e não banqueiros, empresários ou políticos. Em síntese, nunca ouvimos qualquer polêmica entre grandes autoridades do país sobre o abuso policial no uso de algemas quando se trata da prisão de pobres.
A polêmica brasileira parece ter sido representada filosoficamente pelo pensador grego Platão, em sua obra A República. Logo no primeiro capítulo do diálogo, o sofista Trasímaco defende que a justiça não passa do poder dos mais fortes, que manipulam o Estado e constroem leis a favor de seus interesses. Sócrates, o grande personagem de Platão, combate Trasímaco argumentando que não cabe ao homem justo praticar a injustiça e que a injustiça só torna os homens piores. Nesse ponto, temos de concordar com Sócrates: a injustiça oficiosa, no Brasil, tem tornado os brasileiros piores, moralmente piores. Ou será que a cultura da corrupção e do famoso “jeitinho” é um “fenômeno inexplicável”?
Dicas de leitura:
PLATÃO. A República. Tradução de Maria H. da R. Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (sobretudo o Livro/capítulo I).
PLATÃO. Górgias. Tradução de Manuel de O. Pulquério. Lisboa: Edições 70.
eu concordo sim com a opinião dele
ResponderExcluirpq a violência é causada por drogas, mortes e etc
ele diz q a violência ñ tem pai. o pai da violência na minha opinião são as drogas, pq algumas pessoas ficam sem dinhero para compras as drogas ai matam e robam para poder consumir essas coisas
JoÃo