quinta-feira, 30 de abril de 2009

Atividades "Paz e Justiça social"

No decorrer das aulas em que trabalhamos o tema "Paz e justiça social" realizamos algumas atividades, entre elas: ouvimos e debatemos a música "Muros e Grades - Engenheiros do Hawaii", assistimos o vídeo "Segurança fruto da justiça", além do estudo de alguns textos relacionados a esse tema. Tendo por base o trabalho até então realizado, execute as seguintes atividades:
- Exponham as questões elaboradas subjetivamente na aulo do dia 23-04, nas quais estavam embasadas no vídeo "Segurança fruto da justiça";
- Responda a seguinte questão: você concorda com a opinião de Arnaldo Jabor quando ele afirma que a violência tem vida própria? Se assim for, é possível criarmos uma cultura de paz?
- Atividade conclusiva: Elabore um texto sistematizando as idéias e conhecimentos expostos até o momento. Busque utilizar as questões recém apresentadas que estiverem relacionadas ao problema base do trabalho, a fim de respondê-las. Enfim, o texto deverá estar ancorado no seguinte tema: "Paz é fruto da justiça"
Perguntas que poderão auxiliar:
- É possível uma sociedade justa onde prepondere a paz?"
- Quais são os empecilhos que prejudicam a criação de uma cultura de paz?
- Quais são as possíveis ações a serem realizadas?
- Por que há injustiças?
- Quais são as causas da violência?
- Como ela pode ser combatida?

Vídeo: Arnaldo jabor e as causas da violência
http://www.youtube.com/watch?v=IVWJLrmXg3Y

segunda-feira, 27 de abril de 2009

A sobreposição do estético sobre o ético e suas conseqüências

Diego Bechi
O termo estética, assumido neste ensaio, deriva-se do grego aisthesis, aisthetón, pelo qual assume um duplo significado: “a) a experiência de ser internamente afetado por algo externo; b) experiência com certos objetos que se dirigem especialmente aos nossos sentidos” (TROMBETA, 2005, p. 229). Sendo um dos ramos tradicionais do ensino da filosofia, o termo estética foi criado por Baumgarten no século XVIII para designar o estudo da sensação, “a ciência do belo”, estando intimamente relacionado àquilo que agrada aos nossos sentidos. Tendo em vista isso, qual é a receptividade das pessoas e o papel assumido pelo estético nos dias atuais?
Basta dar uma olhada a tudo aquilo que nos cerca para percebermos que as questões estéticas estão sendo mais valorizadas hoje que antigamente. Isso advém do fato de grande parte dos produtos que estão nas prateleiras possuírem embalagens chamativas, atraindo muito os jovens e adolescentes, a faixa etária onde o consumo é mais intenso. Além disso, a propaganda nos meios de comunicação de massa influencia o modo de pensar dos sujeitos, criando nos mesmos a esperança de que ao consumirem determinados produtos estarão a garantir a felicidade que tanto desejam.
Por esses e por outros motivos, o século XXI está marcado por uma distorção total do que é o verdadeiro sentido da vida. Isto é, vive-se uma época em que grande parte da população está colocando o estético na linha de frente da organização da vida. Se antigamente os principais modelos de vida eram os dos santos e intelectuais dignos de serem prestigiados e reverenciados, hoje o que importa é manter a beleza. Para possuir uma vida que vale a pena ser vivida, deve-se possuir o peso, a altura e as curvas do corpo conforme os (as) modelos apresentados (as) pela mídia. Deve-se também, seguir as tendências da moda oferecida pela mesma. Infelizmente, o modelo estético está se sobrepondo ao ético. O que importa não é mais o bom, e sim o belo. Se antes uma parcela significativa da população seguia os patamares éticos utilizados por Jesus Cristo, hoje as gerações atuais seguem os parâmetros estéticos presentes nas top models. Enquanto houve pessoas que perderam suas vidas promovendo o bem e a justiça social, houve também aqueles (as) que perderam suas vidas apenas pela ilusão de ser feliz, seguindo um modelo de vida baseado na beleza, em padrões estéticos impostos pelas agências de moda e por grande parte da mídia.
A razão é que há uma inversão visível entre ser e aparecer. Muitos planejam encontrar sentido para suas vidas não mais na busca por um mundo melhor, através de uma convivência saudável com as demais pessoas, seguindo uma religião, promovendo amor e alegria a seus semelhantes, mas sim em possuir um celular com câmara, um carro do ano, um vestido igual àquele que a colega possui. Não que possuir esses produtos seja errado, mas o problema surge quando o sujeito passa a priorizar a aquisição de bens, como se esse fosse o único meio para conquistar a felicidade, omitindo os valores humanos. O que importa, neste caso, é a realização de seus próprios desejos estéticos, independente se há pessoas necessitadas dormindo pelas calçadas.
Além do mais, essa forte valorização do estético restringe os indivíduos a apenas um tipo de satisfação. Essa satisfação, por sua vez, vem marcada pelo individualismo e pelo gozo sem conseqüência. Isso gera, conforme salienta Trombetta, o que podemos chamar de embrutecimento estético, pois, usando suas próprias palavras, “uma vez que os estímulos estéticos convidam simplesmente ao agrado e a satisfação imediata, o resultado é a perda de sensibilidade e interesse por aquilo que não é mais capaz de atender ao desejo narcisista” (2005, p. 238). Essa visão individualista e a busca pela satisfação imediata, é que leva muitos adolescentes a colocarem suas próprias vidas e a dos outros em risco unicamente para adquirir um determinado objeto, que lhe trará uma satisfação momentânea.
O problema maior surge quando tais pessoas, alienadas pelo consumismo, passam a julgar as demais pela sua aparência ou até mesmo pelo que elas possuem, independente de seus sentimentos e intenções. Isso faz com que se originem o desrespeito e a discriminação daqueles que não se enquadram às suas exigências estéticas. Há, nessa cultura, um certo imediatismo, tanto nos desejos, quanto nos julgamentos, sem prever conseqüências ou resultados a longo prazo.
Logo, a busca por aquilo que agrada aos nossos sentidos, é um dos meios para poder obter uma vida digna ser vivida, mas não a única. De forma alguma pode-se descartá-la, mas ao mesmo tempo deve-se buscar algo que fortaleça a nossa alma, para não nos tornarmos embrutecidos frente ao mundo e a nossos semelhantes, dando um verdadeiro sentido às nossas vidas. Não podemos confundir o narcisismo, entendido como necessidade constante de admiração alheia, como sinônimo de amor próprio, mas ao contrário, caracteriza-se como ausência de auto-estima. Trata-se de uma pessoa que precisa do outro para manter a sua auto-imagem, retirando desse aquilo que lhe falta. Por isso, pode-se dizer que as pessoas dependem, para viver em paz consigo mesmas, não apenas do estético, daquilo que agrada nossos sentidos, mas também do ético e da convivência fraterna, pois, conforme salienta Savater, “dar-se uma vida boa não pode ser muito diferente, afinal, de dar uma vida boa” (2004, p. 76 – grifo do autor). É preciso tratar os nossos semelhantes como gostaríamos de ser tratados e não como simples coisas, como simples meios para adquirirmos nossos desejos narcisistas, pois somente por meio de uma boa convivência poderemos receber aquilo que nos satisfaz realmente, o respeito, a amizade e o amor.
Referencias bibliográfica
TROMBETTA, Gerson L. Da estetização do mundo ao embrutecimento estético: notas sobre a relação entre experiência estética e educação. In: RIBAS, Maria A. C.; MELLER, Marisa C; RODRIGUES, Ricardo A.; GONÇALVES, Rita A.; ROCHA, Ronai P. (org.). Filosofia e ensino: a filosofia na escola. Ijuí: Unijuí, 2005. p. 229-242.
SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 2004.

Quem tem fez por merecer?


Ediovani Antonio Gaboardi
(gaboardi@upf.br)
Professor do curso de Filosofia da UPF

O desenvolvimento de uma sociedade depende da distribuição justa dos benefícios produzidos. Só vou trabalhar se tiver a esperança de que serei recompensado adequadamente pelo meu esforço. Se eu perceber que não é pelo trabalho que as pessoas são bem-sucedidas em minha sociedade, então vou renunciar também ao trabalho e procurar outras maneiras de obter sucesso. É de se esperar que qualquer indivíduo faça o mesmo, desde que tenha liberdade e seja suficientemente esperto para perceber como as coisas funcionam.
Mas como medir o mérito das pessoas? Como comparar ações tão diferentes quanto compor uma música, construir uma casa ou preparar uma refeição? E, pior, o mérito não pode basear-se apenas no bem que a ação produz à sociedade, mas também no grau de esforço que ela exige – senão ninguém assumirá aquelas tarefas igualmente úteis, mas mais difíceis.
Trocamos nossa força de trabalho com outros por meio do dinheiro e determinamos o valor de nosso trabalho pela lei da oferta e da procura. Supomos assim que o que é mais útil e mais difícil de realizar será também o mais valorizado. Assim, para conhecer o mérito de uma pessoa, basta olhar seus bens: quem tem mais fez por merecer.
No fundo, aceitamos essa regra econômica porque ela é em tese a expressão concreta do princípio mais elementar da moral, a justiça, que significa desde a Grécia clássica “dar a cada um o que é seu de direito”. Supomos, assim, que as pessoas no início da vida são livres e iguais. Algumas decidem sair do comodismo e trabalhar, gerando bens e serviços que são úteis para os demais, e por isso devem receber a sua parte da riqueza total. Outras decidem não colaborar e, por isso, não merecem nada. Aqui vale aquela máxima: “Quem não trabalha não come”.
Mas será que essa teoria explica mesmo a vida real? Será que recebemos aquilo que merecemos? Será que temos liberdade para decidir que trabalho realizar? Será que aquela igualdade de ponto de partida existe em nossa sociedade, e aquilo que a pessoa consegue na vida é mérito exclusivo seu? Será que os bens que as pessoas têm expressam o mérito que possuem?
Para alguns, essas questões são reinações de quem só sabe reclamar e não quer trabalhar. Para outros, expressam o mal fundamental que impede que as pessoas se desenvolvam. Para uns, a frase “quem tem fez por merecer” é a mais pura verdade. Para outros, o último grau da hipocrisia humana. Como diz o ditado, “quem bate nunca se lembra, quem apanha jamais esquece.” Ou seja, essa diferença de opinião, em vez de relativizar a resposta, torna-a ainda mais evidente. Pelo menos se não tivermos aquela clareza moral de Solon (640 a 558 a.c): “Haverá justiça no mundo somente quando aqueles que não forem injustiçados se sentirem tão indignados quanto aqueles que o forem”.
A justiça é o que torna possível a vida civilizada. Então, “quando a verdade não mais valer. Quando ter caráter só comprometer. [...] Haiô, Haiô Silver!” (IRA, Haiô silver!)


1- Na sua opinião, as pessoas recebem aquilo que realmente merecem? Justifique sua resposta exemplificando?
2- Você acredita que o trabalho de um gerente é mais digno que o trabalho de um pedreiro?
3- Busque explicitar a seguinte afirmação: “para conhecer o mérito de uma pessoa, basta olhar seus bens: quem tem mais fez por merecer”. Será que os bens que as pessoas têm expressam o mérito que possuem?Se você tivesse a função de medir os méritos de cada um, dando a eles o que realmente merecem, que critérios levaria em conta para fazer tal avaliação?

A justiça é o poder dos mais fortes?

A justiça é o poder dos mais fortes

Marcio Soares
(soares@upf.br)
Professor do curso de Filosofia da UPF

Nestas últimas duas semanas, foi motivo de polêmica uma operação da PF (Polícia Federal) que resultou na prisão de banqueiros, empresários e até um ex-prefeito da maior cidade do Brasil, todos acusados de corrupção, formação de quadrilha e desvio de dinheiro público. As operações da PF foram filmadas e veiculadas em rede nacional. Como em todas as operações policiais similares, os acusados foram algemados e conduzidos em carros da própria PF até a sua carceragem. Evidentemente, as imagens de gente famosa e muito rica sendo presa foram amplamente exploradas pela televisão.
Contudo, a polêmica se deu entre as grandes autoridades do país que comentaram publicamente as prisões. De um lado, um ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) queixou-se da arbitrariedade da PF e do abuso de autoridade no uso de algemas. De outro, o ministro da Justiça ponderou que a PF apenas exerceu seu papel ao algemar os acusados. Até mesmo o presidente da República comentou o caso do abuso de autoridade no uso das tais algemas nessa operação. E, para aumentar a polêmica, gravações telefônicas feitas pela PF, publicamente veiculadas, mostram os acusados falando das facilidades de se safarem das acusações no STF.
Houve, ainda, uma queda de braço pública entre um ministro do STF, que mandou soltar alguns acusados (os mais ilustres), e o juiz que decretara as prisões, que as ordenou novamente. Para completar o quadro, os delegados da PF envolvidos pediram afastamento do caso, e alguns dos advogados dos ilustres acusados queixaram-se do “estado de polícia” que o Brasil se tornou, referindo-se às operações da PF.
Tudo isso é de domínio público e parece confirmar a opinião comum de que a justiça é discriminatória e trata ricos e pobres de maneira desigual. Ora, os brasileiros assistem diariamente a cenas de operações policiais nas periferias das cidades: traficantes e bandidos em geral são algemados e conduzidos em camburões da polícia de forma bem menos confortável do que os ilustres presos pela PF. Mas há uma diferença: eles são pobres, traficantes, assaltantes, arrombadores, e não banqueiros, empresários ou políticos. Em síntese, nunca ouvimos qualquer polêmica entre grandes autoridades do país sobre o abuso policial no uso de algemas quando se trata da prisão de pobres.
A polêmica brasileira parece ter sido representada filosoficamente pelo pensador grego Platão, em sua obra A República. Logo no primeiro capítulo do diálogo, o sofista Trasímaco defende que a justiça não passa do poder dos mais fortes, que manipulam o Estado e constroem leis a favor de seus interesses. Sócrates, o grande personagem de Platão, combate Trasímaco argumentando que não cabe ao homem justo praticar a injustiça e que a injustiça só torna os homens piores. Nesse ponto, temos de concordar com Sócrates: a injustiça oficiosa, no Brasil, tem tornado os brasileiros piores, moralmente piores. Ou será que a cultura da corrupção e do famoso “jeitinho” é um “fenômeno inexplicável”?

Dicas de leitura:

PLATÃO. A República. Tradução de Maria H. da R. Pereira. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. (sobretudo o Livro/capítulo I).
PLATÃO. Górgias. Tradução de Manuel de O. Pulquério. Lisboa: Edições 70.